
Gabriel Rosa
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O novo olhar dos profissionais 50+ na Arquitetura e no Design
Nos últimos tempos, tenho visto cada vez mais pessoas com mais de 50 anos entrando para o mundo da arquitetura e do design. E isso me encanta.
Gente que decide mudar de caminho depois de uma vida inteira em outras áreas, que resolve se redescobrir, aprender algo novo, e transformar toda a experiência acumulada em criação.
É bonito ver isso acontecer, mas também é impossível não perceber as barreiras que ainda existem.
O mercado fala tanto sobre diversidade, sobre inclusão, sobre novas perspectivas… mas, quando o assunto é idade, o acolhimento ainda é tímido.
E isso é uma pena, porque essa geração tem muito a ensinar.
Muitos desses novos profissionais contam que sempre sonharam em trabalhar com algo criativo, mas a vida acabou levando por outros caminhos.
Filhos, estabilidade, contas, rotina, a gente sabe como é.
Mas chega uma hora em que o desejo de fazer algo com mais propósito fala mais alto.
Tem gente que vem da área de exatas e descobre no design um novo jeito de organizar o mundo.
Tem gente que trabalhou décadas no corporativo e encontra na arquitetura um espaço para expressar sensibilidade.
E o mais interessante é que essas pessoas não estão “começando do zero” elas estão recomeçando com bagagem, e isso faz toda a diferença.
Uma aluna de arquitetura de 52 anos me disse: “Depois de alguns anos com planilhas, eu só queria criar algo que despertasse emoção.”
E eu achei isso tão bonito, porque é sobre isso: emoção, sentido, recomeço.
Apesar dessa vontade enorme de aprender e contribuir, a caminhada nem sempre é fácil.
O mercado ainda carrega um certo etarismo silencioso, aquele preconceito sutil que faz muita gente acreditar que criatividade tem prazo de validade.
É comum ver profissionais 50+ se sentindo deslocados nos cursos, nas entrevistas ou até nas equipes.
Às vezes, por não dominarem certas ferramentas digitais. Outras vezes, porque o ambiente valoriza demais a rapidez e esquece o valor do tempo.
Quando um profissional com mais de 50 chega a esse mercado, ele traz junto uma visão de mundo que enriquece tudo.
Traz calma, empatia, sensibilidade e um olhar que só o tempo dá.
Sabe entender o cliente de outro jeito.
Sabe o valor do silêncio, do espaço, do tempo de maturar uma ideia.
Muitos vêm de carreiras em que desenvolveram liderança, gestão, escuta, e quando isso se mistura com o universo criativo, o resultado é potente.
Eu acredito que os escritórios e equipes que aprendem a misturar gerações saem ganhando.
Os mais jovens trazem agilidade e tecnologia; os mais maduros, profundidade e visão crítica.
É nessa troca que a inovação verdadeira acontece.
Um colega arquiteto me disse uma vez: “Trabalhar com uma colega de 57 anos me ensinou sobre tempo. Ela não
tem pressa de desenhar, ela tem vontade de entender.”
E talvez essa seja a diferença mais linda.
Essa geração que decide mudar de caminho depois dos 50 está ensinando algo muito importante pra todos nós:
que nunca é tarde pra criar, pra aprender, pra sonhar de novo.
Eles mostram que a criatividade não é sobre juventude, é sobre curiosidade.
E que a arquitetura e o design podem (e devem) ser espaços de acolhimento, de novas narrativas, de pessoas com
histórias reais para contar.
No fim das contas, recomeçar é um ato de coragem.
E quem tem coragem de recomeçar, também tem coragem de transformar o mundo ao redor.
Fotos: Vitor Guilherme